Uma pequena reflexão.

Salve, salve, galerinha do mal. Desta vez não vou atormentar vocês, meus caros leitores imaginários, com outra das minhas malfadadas poesias. Vou expor alguns devaneios meus acerca de um tema que muito me preocupa, e que, curiosamente, surgiu na aula de Teorias da História esta noite.

Seguinte: uma das minhas grandes críticas ao mundo acadêmico é o fato de ele ser hermético, ou seja, se encontra fechado para o mundo exterior. É como uma pérola presa dentro da concha. E este fato gera um grande afastamento entre a produção historiográfica recente e os livros didáticos. Jim Sharpe, citando David Cannadine, já expressava sua preocupação com isso na perspectiva britânica:

"grande parte desta nova versão profissional britânica foi completamente afastada da grande audiência legai, cuja satisfação de sua curiosidade sobre o passado nacional foi um dia a principal função da história. Um resultado paradoxal deste período de expansão sem precedentes foi que cada vez mais os historiadores acadêmicos estavam cada vez mais escrevendo uma histórica acadêmica que cada vez menos pessoas realmente liam" (CANNADINE apud SHARPE, 1992)

Isso nos leva a pensar outro problema: qual o valor da nossa produção acadêmica? Michel de Certeau vai dizer que o importante é o "reconhecimento pelos pares" (DE CERTEAU, 1982). Ora, o que isso significa? Que a produção histórica só é válida se for reconhecida por historiadores. Voltamos, novamente, à questão da hermeticidade do mundo acadêmico, que cada vez mais soa como um "clube fechado", cujos benefícios são disponíveis somente aos seus associados.

Claro que não tenho a intenção de dizer que métodos mais rígidos não sejam necessários para se abordar as fontes, para constituir a historicidade de uma obra. Mas é preciso notar que cada vez mais nós, (futuros e atuais) historiadores profissionais, nos afastamos do grande público, que tem a necessidade do acesso ao conhecimento que produzimos. Caso escrevamos apenas para nós mesmos, que valor tem nossos livros? Nenhum! O conhecimento precisa circular, precisa ser adquirido por todos para que possamos viver numa sociedade mais ativa, intelectual e politicamente.

Partindo desta análise desse cárcere no qual se encontra nossa produção historiográfica, quero chegar a um assunto ainda mais sério: nossa educação.

Bem sabemos que nossa educação pública, em nível de base, é deficiente. Poucos professores, estrutura insuficiente, má remuneração e todas essas coisas que tanto já foram faladas por muitas pessoas pelo Brasil afora. É por isso que não vou discorrer sobre isso. Quero falar sobre algumas estruturas sociais que influem na nossa educação.

Nosso sistema de ensino é tecnicista, apesar de que, de acordo com a LDB, seja necessária a formação de cidadãos. Nossas escolas tratam de "preparar" os alunos para o vestibular e para o mercado de trabalho, ignorando seu desenvolvimento pleno para o exercício da cidadania. Mas isto vai além de uma mera lei imposta de cima para baixo, indiferente aos interesses que ela buscou responder. Temos que notar que nós, enquanto sociedade, pressionamos nossas escolas para que formem nossos filhos, irmãos, sobrinhos e etc adequadamente para o vestibular e para o mercado de trabalho. Curiosamente, a mesma preocupação não se repete no que trata à formação política deles. Não nos importa que eles nada (ou quase nada) entendam de democracia, dos processos políticos que nos cercam a cada minuto de nossa vida.

Mas vejam bem, isso é comum na nossa sociedade. Há bastante tempo nos preocupamos muito com nossa (sobre)vivência imediata, sem buscar grandes reflexões sobre a melhoria das nossas condições de VIDA (entendendo aí, tudo o que nos cerca: nossa relação com o meio ambiente, nossa relação conosco, nossa relação com nossos vizinhos, etc). Salvo raras exceções (que, normalmente, se encontram enclausuradas dentro do mundo hermético da academia, produzindo dentro de gabinetes), não fazemos essa atividade crítica e reflexiva. Precisamos, pelo contrário, nos preocupar em conseguir a comida para o almoço, a cama para dormir. Por tanto, para que nossos filhos não passem pelas mesmas privações que nós, exigimos do sistema que eles sejam melhor formados, para que tenham melhores cargos que nós. Doce ilusão.

Aliás, por falar em sistema, o que é esse tal sistema? Uma instituição monstruosa, que nos oprime, que nos submete à sua vontade e que nos rege. Ok, mas... o que é esta instituição? Uma idéia meramente abstrata, que representa o poder vigente do Estado. E o que é o Estado? Outra idéia abstrata que representa um grupo identificado de, pasmem, PESSOAS. Sim, nós, pessoas, constituimos o Estado e, por tanto, o sistema. Por tanto, sempre que dizemos que "o sistema é podre" estamos culpando a nós mesmos pela podridão. Mas claro que logo se tratou de afastar essa idéia mais palpável de sistema do inconsciente coletivo. É muito mais fácil atribuir culpa a uma representação abstrata do que a nós mesmos. Outro dos vícios de nossa sociedade: sempre tirar o nosso da reta.

Espero que entendam que esse texto é uma reflexão pessoal, fruto da minha vivência, das minhas leituras e das minhas observações. Não tive a pretensão de dar um cunho acadêmico a este textículo, apesar das pequenas citações (apenas as achei pertinentes ao assunto). Espero que gostem (ou não), e que comentem.

Abraço, pessoas!

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