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Quando eles morrem, é mais fácil.



É mais fácil quando os acidentados morrem e não precisam de hospital. O peso sobre nossos bolsos e sobre os segundos caixas dos gestores públicos é menor. É mais fácil para aquele pobre diabo, que não vai passar o resto da vida sem andar, sofrendo com dores e falta de acessibilidade. Quando eles morrem, é mais fácil para o espetáculo da morbidez humana: o circo se arma e o círculo se fecha ao redor do morto - e ali naquela beira de estrada, todos os observadores fingem estarem se sentindo mal, mas lá no fundo, agradecem por não ter sido com eles. Mas se o pobre diabo não morre, aí não é nada fácil. Os gritos atrapalham a sensação de alívio, fazem ela ser substituída pela culpa e pela impotência - e até pela vergonha daquele sombrio pensamento de "por que ele não morre?".

É mais fácil quando os viciados morrem e não precisam de internação em hospital nenhum. Eles não ficam espreitando nossas vidas, prontos para nos tirar o suado salário do mês em troca de alguns instantes de êxtase. É mais fácil quando eles morrem e não ficam na rua sujando a nossa moral coletiva ou construindo suas favelas imundas. É melhor quando eles morrem e poupam sua família do peso da doença. Só não é fácil quando eles não morrem e ficam ali, como um tumor exposto à luz do sol, como uma doença altamente contagiosa, uma lepra social, que mostra pro mundo nossos problemas e nos faz lembrar, no nosso âmago, que a culpa é realmente nossa.

É mais fácil quando os pobres morrem e não precisam de serviço de saúde público, educação pública ou apoio governamental. Quando eles partem dessa pra melhor, porque qualquer coisa é melhor para esses pobres bastardos que sua vida, nos poupam vários reais em impostos: Sobra mais vagas nas boas escolas para que nossos filhos estudem de graça, sobra mais vagas nos hospitais para que nossos doentes se tratem de graça, sobra uma porção maior do orçamento público para melhorar nossos queridos bairros A e B. Só é duro quando eles insistem em viver naquela merda de vida, chafurdando na imundice e roubando nossa paz de alma. Quando eles não morrem, a mancha não vai embora e os nossos pecados se refletem em cada suspiro de cada mendigo, no rosto de cada criança que pede um troco pra poder comer.

É mais fácil quando os homens morrem e não precisam mais nos mostrar o quão falhos eram. A memória é maleável e pode escolher o que vai lembrar e o que vai esquecer: quando eles morrem, só lembramos das coisas boas. As estátuas nas praças e os nomes das ruas nos dizem que grandes homens construíram essa cidade, esse Estado, esse país - se não fossem por eles, hoje estaríamos entregues aos portugueses, aos comunistas ou aos pobres. Quando eles morrem, podemos dar vivas aos nossos heróis nacionais. Mas quando os safados resolvem ficar vivos, aí a coisa se complica. Vemos que eles costumam fazer mais besteiras do que boas coisas; ouvimos suas opiniões preconceituosas que nos deixam envergonhados porque, em grande parte, lembram muito daquelas tendências nossas que gostamos de deixar escondidas nos cantos sombrios das nossas mentes, reservadas às íntimas rodas de amigos.

É mais fácil quando a Verdade morre e não precisa ser exibida em praça pública. Quando ela morre, podemos relativizar as coisas e deixar que todos tenham direito ao seu próprio ponto de vista - desde que eles tenham a cor e o dinheiro certos. Sem Verdade, podemos nos entregar aos nossos desejos ignóbeis, desde que eles não sejam vistos por muita gente. Quando a verdade morre, é mais fácil de continuar vivendo sem lembrar da culpa - o que restam são doces lembranças de infância distorcidas. Às vezes ela teima em descansar pra sempre, é uma brigadora, todavia há sempre uma boa alma disposta a manter as coisas na mais santa paz. Mas quando a danadinha não morre, aí tudo tem que ser o que é, e quem não se esconde, mané, tem que ter suíngue no pé.

Cansar-me-ão...


... as tuas exigências. Eu poderia escrever mais. Eu deveria escrever mais. Caso assim fizesse, talvez escrevesse melhor... Mas é tão difícil abandonar certas convicções. Por exemplo: sou convicto na minha preguiça. É verdade que, não fosse por ela, eu poderia ser muito mais do que sou, mas quem disse que quero sê-lo? É tão difícil acreditar que pouco me basta? É crime hediondo gostar de fazer nada? Caso gostasse de praia, poderia me imaginar como um daqueles cidadãos que, cansados do caos urbano, abandona a vida tumultuada da grande cidade e se muda para o litoral em busca de sombra e água fresca. Um senhor aposentado e sua rede a balançar. Mas eu não gosto de praia – prefiro viver nas cidades, ainda que deteste o tumulto. Suponho que seja por isso que gosto tanto de estar acordado à noite: é tudo calmo e a santidade do meu quarto não é invadida pelo sem número de sons cacofônicos. E é por isso que gosto tanto de dormir muito: nos sonhos, não há barulho se assim eu não o quiser; não há trabalho, nem pressões e nem demandas; lá nos sonhos, as possibilidades são infinitas, só limitadas pela minha própria criatividade.


É crime, então, querer sonhar mais? Deve ser, já que todos me condenam. Devo escrever mais, devo pensar mais, devo produzir mais, devo consumir mais. Há tantas coisas que querem que eu faça, mas preciso realmente fazê-las? Nunca nos dizem realmente o porquê, não é mesmo? Gostaria era de ter permanecido na infância, ou de poder a ela retornar; Tudo era tão menos complicado naqueles dias pequeninos. O tempo era sempre grande, às vezes grande demais; qualquer tralha virava um brinquedo novo; uma nuvem engraçada era motivo para criar e conta uma estória fantástica... Ah, sim, as estórias fantásticas... Havia magia naqueles dias – magia que me falta hoje. E não estou falando de truques de mágicos profissionais ou de grandes poderes ocultos, mas daquela capacidade jovial e inocente de surpreender-se com o menor dos acontecimentos cotidianos. Quando crianças, tínhamos o mundo pela frente e as horas duravam bem mais. Tudo eram possibilidades: havia uma infinidade de sonhos a se perseguir e de mundos a conquistar. Mas foi logo lá naquela tenra idade que ceifaram qualquer chance de concretizar as magias em potencial.

Sente direito! Preste atenção! Some, divida, subtraia, multiplique! Escreva-me sobre os clássicos! Mas onde ficou o espaço para as minhas vontades, para a minha criatividade? Já naquela época tentaram me tornar previsível, raso. Não deu certo - ao menos, não plenamente. Ele é depressivo! Ele é hiperativo! Ele é desatento! Dêem-no algo para curá-lo! Mas quem disse que eu queria uma cura? Tudo o que de melhor há em mim morre com a cura que eles me querem. Colocam-me a trabalhar, a estudar, a melhorar... Mas para quê? Minhas ideias escorrem pela minha testa. Meus ideais se esvaem pela minha uretra. Minha vida foge pelas minhas narinas. Assim tem sido essa existência de (desinteli)gente grande – existência, não vida; porque não há gozo em desperdiçar meu tempo, meu prazer e meu pouco talento em projetos alheios. Se sou mesmo dono de meu nariz, que me deixem ser como quero! Já disse antes e lhes direi novamente: gosto da minha preguiça, de regozijar meu tédio. Deixem-me ser quem sou que serei melhor. Se me querem vivo, deixem-me sonhar. E chega de vitupérios.

Um novo dia, um novo mundo.

Sei que eu tinha prometido voltar à ativa, mas fui deixando as coisas meio de lado... E por isso, peço desculpas! Vou tentar, novamente, manter estas paragens mais atualizadas de agora em diante. Ando escrevendo bastante e sinto a necessidade de compartilhar um pouco disso com o mundo.

Tem dias que a gente acorda, mas preferia não acordar. Pensando bem, seria melhor dizer que são poucos os dias em que realmente queremos acordar. Quem aqui gosta de trocar uma cama quente e um mundo onde somos quem queremos ser, onde as coisas acontecem sempre para nosso melhor? É claro que há os pesados, mas não são eles que costumam preencher nosso sono, não é mesmo?
Mas levantar é preciso. Ao menos, foi o que me disseram a vida toda. Levantar e ir pra escola. Levantar e ir pra missa. Levantar e ir pro trabalho. Levantar e ir pro caixão. Bom, isso ninguém nunca fala... Mas fica implícito, não? Passamos tanto tempo estudando, trabalhando e rezando que dificilmente vemos a vida passar, nós raramente nos damos o tempo necessário pra aproveitar a vida... Um dia eu me dei conta disso. Em cada nova oportunidade que nos levantamos, estamos dando só mais um passo em direção ao túmulo.
Onde fica esse tempo que nos falta, então? Alguém, com certeza, têm de estar tirando ele de nós, certo? Mas não. Nós mesmos nos privamos de ter uma vida há muito tempo atrás – alguns diriam que foi em outra encarnação. Quando aceitamos, enquanto espécie, que queríamos ser uma sociedade baseada no progresso, nos condenamos à escravidão. Somos prisioneiros do relógio, constantemente acossados pelas metas e os objetivos. É vencer ou morrer tentando, e o meio termo significa a exclusão.
Quando foi a última vez que levantou atrasado, despreocupado, e deu uma boa olhada no céu? Quando foi a última vez em que você tirou uns minutos para se embasbacar? Aposto que há anos você não desperdiça horas tentando entender o porquê você é tão infeliz – não, ao invés de fazer um esforço desses, você vai ao médico e paga para ele lhe dizer que você está doente e que precisa deste ou daquele remédio. Mas sejamos sinceros: quem aqui não faz isso? É normal, aceitável e até desejável que você faça isso – saudável, eles dizem -, afinal, alguém precisa pagar as contas.
Mas suponho que o mundo seja um grande aglomerado desses paradoxos, não? Você trabalha para ter dinheiro para aproveitar a vida, mas na hora da diversão, está cansado demais e precisa recarregar as baterias pra trabalhar. Você é politicamente correto e nada preconceituoso, mas adora xingar alguém de “viado”. Você não é racista, só não acha que pessoas de outra cor sejam atraentes. Você é defensor dos animais, pode até não comer carne, mas ainda consume produtos que exploram os animais. Você é revolucionário e diz que as classes mais baixas precisam se politizar, mas passa sua vida trancado no gabinete da universidade ou na casa de seus pais que recebem alguns milhares de reais por mês.
Não se sintam ofendidos, caros leitores, isso não é especificamente para atingir vocês ou a mim. A culpa é de todos nós. O que temos feito do nosso mundo e de nossas vidas? Quanto tempo já jogamos fora debatendo os problemas do mundo, para depois irmos para o aconchego de nossas camas na maior paz de consciência? Devo fazer o mea culpa e admitir que este texto não me torna um ser superior, sequer diferente de vocês.
Já perdi a fé na humanidade diversas vezes, e em muitas dessas ocasiões foi por minha própria culpa. Sei que não sou bom exemplo de ser humano e que, provavelmente, muitas pessoas já desistiram de acreditar porque eu, assim como outros antes de mim, não pude dar o moral que era requisitado. Mas se minha fé já foi perdida várias vezes, é porque ela foi reconquista repetidamente, não é mesmo?
Pequenos atos de humanidade são o suficiente para fazer o dia brilhar mais. Um sacrifício pessoal em prol do próximo torna o mundo mais suportável. É claro que não acho que isso seja um desapego genuíno – a ideia consciente pode vir a ser essa, mas na maior parte das vezes é um descarrego de consciência. Mas de qualquer forma, seja verdadeiro ou só um alívio, ajudar o mundo a respirar é necessário.
Proponho aqui uma mudança pequena que pode ser posta em prática desde já: ao acordar amanhã, sorria para a pessoa que está ao seu lado. Se você estiver sozinho, pegue seu café e dê uma bela contemplada na paisagem que está lá do lado de fora de sua janela. A beleza da vida está escondida bem debaixo dos seus olhos, nos lugares aparentemente mais inusitados. Mesmo o tom cinza que domina as grandes cidades pode dar uma nova luz à sua vida.

Imediatismo cruel.

Buenas, pessoas que nos lêem. Venho aqui fazer uma crítica a nós e à nossa sociedade, motivado por alguma reflexão pessoal e pela morte do goleiro alemão Robert Enke, de 32 anos.

Apesar de ter uma carreira bem sucedida, tendo passado por grandes clubes, como o Barcelona, e pela seleção alemã, Robert sofria de depressão e tinha medo de fracassar em sua profissão. O resultado: Terça-feira passada Enke pôs um fim na sua vida, jogando-se em uma linha de trem.

Isso me fez pensar, sabem? A que ponto a nossa vida nos leva? Nosso medo de "falhar", nossa vontade de vencer, o desejo que a sociedade tem de extrair cada mísera gota do nosso suor? Levou o goleiro Enke à morte, mas certamente ele não foi o único. A depressão é uma das doenças que mais afeta as pessoas da nossa época. E como poderia não ser assim? Os valores tornam-se cada vez mais temporários e flexíveis, visando o lucro e a exploração. As relações ficam cada vez mais impessoais e distantes, e embora nós estejamos cercados por mais de 6 bilhões de pessoas, nos encontramos quase sempre sozinhos ao fim do dia.

Acho que vale a pena dar um tempo para prestar atenção na vida e nas suas nuances. Procurar a felicidade que está em algum lugar dentro da gente, mantida prisioneira por uma vida de preocupações e obrigações. Ouvir os pássaros cantando ou uma boa música, ler um bom livro, perder alguns minutos observando o pôr-do-sol ou uma obra de arte. Quantas vezes fazemos isso por semana?

Qual o propósito de viver só e amargurado, embora cheio de dinheiro? A falta de questionamento sobre como as coisas são estão nos levando a um inexorável abismo de angústia e depressão, mesmo que tudo pareça brilhante e vivo na superfície. Eu prego aqui que nós devemos nos reaproximar do ser humano. Nos aproximar do ato de SER humano, e não uma máquina de produção/consumo, e nos reaproximar das pessoas sem os preconceitos construídos por séculos de intolerância e etnocentrismo. Falamos tanto em globalização... Acho que já está na hora de praticarmos a universalização da aceitação do diferente. É hora de contrariar a tendência mundial que está sendo atraída para a extrema direita e para o vil conservadorismo, novamente. Isso lembra a vocês de alguma coisa?

Bom, era isso. Bom domingo a todos e aquele abraço.

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