A música hoje em dia...

Estive lendo, na semana passada, a introdução do livro "Vidas para Consumo", de Zygmunt Bauman. Ao longo do curto texto, o autor introduz o que pretende desenvolver durante o livro, como toda introdução deve ser. E o que realmente importa: Bauman começa a explicar como as coisas funcionam na nossa sociedade de consumo, o imediatismo das relações virtuais e como as pessoas estão se transformando em produtos.

Enquanto estava imerso na minha leitura, acabou me ocorrendo algo relativo à música: nós que gostamos de música dos anos 30, 40, 50, 60, 70 (e assim por diante), o mundo parece não fazer muito sentido. Quando ouvimos as atuais canções que fazem sucesso, não conseguimos entender como alguém pode gostar daquilo. Mesmo que esta música tenha retirado, claramente, sua inspiração da música afro-americana (o blues, o jazz e o soul, mais especificamente), em nada parece se relacionar. A fronteira entre o talento dos artistas e dos produtores, técnicos e computadores está evanescendo.

Como Bauman disse sobre nossa sociedade, se não estamos integrados às redes (sejam elas de sociabilidade, consumo, ou o que for), estamos virtualmente mortos para a sociedade. Então, dinossauros precoces como eu (que aos 22 anos não consigo gostar da música da minha geração), estão (quase literalmente) em extinção. O que importa hoje em dia, mais do que nunca, é a capacidade de marketing de um produto (seja ele uma pessoa, uma roupa ou mesmo a arte). Através das mídias formadoras de opinião e do talento de gerenciamento de algumas pessoas que sabem o que o grosso do povo quer, forma-se novos (e descartáveis) astros a cada dia. Este é, no fim das contas, o imediatismo da nossa sociedade: a cada dois meses é lançado um novo celular ou computador, a cada semestre surgem novos “heróis do rock”, que tocam tudo, menos o dito rock.

Uma vez li um texto de Ricardo Seelig, editor dos blogs Collectors’ Room e Why Dontcha, sobre o porquê de a música dos anos 60 parecer tão melhor do que a que é feita hoje em dia. Ricardo, grande fã de música (em especial de rock e de metal), afirmava que as bandas de rock dos anos 60 eram mais criativas porque se inspiravam no blues, no soul, no jazz; e que hoje em dia, as bandas estão buscando suas raízes nas bandas de rock dos anos 60 (70, 80 e 90). O desfecho não poderia ser outro senão o desgaste das ideias da música, elas são a “cópia da cópia”, por assim dizer.

Mas eu vou além daquilo que o Ricardo falou: eu diria que a nossa sociedade, como um todo, é menos inspirada que a das décadas anteriores. A nossa falta de sonhos coletivos (afinal, vivemos no mundo do “eu”), de utopias e de politização (acreditamos que política é a partidária, e que cidadania é votarmos a cada dois anos) tem nos levado a um abismo ético, moral e intelectual. Estamos sem rumo: a crise financeira assolando o mundo, e a Europa em especial; a corrupção generalizada de nossos representantes no governo... Ninguém sabe dizer o que será do dia de amanhã.

Essa é, para mim, a maior diferença que a música atual tem para aquela música que tanto amamos: falta politização, falta conteúdo. É claro que em décadas passadas muitas das canções que faziam sucesso abordavam temas “bobos”, mas ainda o faziam de forma mais séria e competente do que vemos hoje. Olhem, por exemplo, para as letras da música atual: crianças de 16 anos cantando sobre amor (como se tivessem vivido o suficiente para saber algo sobre isso), caras falando sobre carros e vadias, mulheres falando sobre caras e jóias. Em que diabos de mundo estamos vivendo, afinal?

Com toda essa merda por aí, não é de se admirar que a música esteja tão fodida. Ela está assim, ferrada, porque nós estamos constantemente nos ferrando. Acho que está na hora de pararmos para pensar um pouco sobre o que queremos da nossa vida e do nosso mundo. Só mudando o paradigma da nossa sociedade é que poderemos voltar a ver florescer a criatividade no meio musical.

Em memória de Hubert Sumlin (1931-2011)

Domingo, dia 4/12/11, faleceu um grande guitarrista do blues, Hubert Sumlin. Hubert esteve na banda de Howlin' Wolf por quase 20 anos, ajudando a estabelecer o padrão que o tornaria tão famoso. Este senhor do Mississippi influenciou nomes como Buddy Guy, Jimi Hendrix e Frank Zappa e foi em sua homenagem que escrevi este singelo blues. Espero que gostem.

Blues for Hubert

Born in Mississippi
like in any other tune
That boy sure was tricky
With a guitar in his hand
with the blues he'd commune

Down in Chicago
He drank muddy waters
and howled with the wolfs
With a guitar in his hand
there ain't but one
problem he couldn't solve

My guitar cries
but still he's gone
to play the gig in the sky
Oh, Lord, I'm so doggone

But weep not for Hubert
now he's got them side by side
Muddy, Walter and the Wolf
all set up
For the final gig in the sky

My guitar cries
but still he's gone
to play the gig in the sky
Oh, Lord, I'm so doggone

The road is long and sad
but no sorrow lasts forever
No matter how many tears
are to be shad

Another shout for eternity
one last cry of fever
His blues is bound to infinity
the kind that makes me shiver

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