Não vamos levar a música à "luta de classes", por favor!

Há uns dias atrás, um conhecido meu postou uma atualização em seu Facebook que me deixou intrigado; resolvi ler pra ver qual era a do pastel. O texto era de um dos blogs do jornal Estadão e falava sobre como as pessoas que ouvem rock estão tendo vantagem na hora de conseguir emprego. Vi que muita gente aplaudiu o texto do Marcelo Moreira (para quem quiser ler a matéria, é só entrar AQUI!), se mostrando revoltado contra os “incultos” que só ouvem o “lixo comercial”.

Bom, meu último texto falava sobre os rumos que nossa sociedade está tomando e como isso estava influenciando a produção musical, mas procurei não entrar no mérito do gosto de cada um. Talvez isto não tenha ficado tão claro, então agora à luz deste ensaio do Marcelo Moreira, vou tentar entrar um pouco nessa discussão de preferência musical pessoal.

É preciso dizer que fiz (e ainda estou fazendo) um esforço enorme para não julgar o gosto alheio, afinal é como dizem por aí: “gosto não se discute” (até acho que se discute, só não se valora). Pra quem me conhece, isso tudo pode soar meio estranho, afinal, eles sabem o quanto eu sou chato e implicante pra música (bom, na verdade, não é só com música que eu implico, mas isso é outra história). Admito que erro muito nesse ponto; a arrogância me é característica, infelizmente, e ela escapa nas minhas palavras sem que eu me dê conta na hora. Esse lance de falar tudo de “cabeça quente” já me rendeu muitos problemas na vida (meus queridos amigos, que me aturam, que o digam).

Então, vocês se perguntam: “se o próprio autor é preconceituoso, por que diabos vou ler o que ele escreve?”. E eis a resposta: estou tentando fazer uma análise critica do texto em questão (“Gostar de rock começa a pesar na avaliação profissional”) e dos preconceitos que criamos em relação à música. Eu sei que, pessoalmente, eu não vou mudar do dia pra noite em relação à implicância com a “música ruim”, e nem espero que ninguém aí vá mudar sua vida depois de ler isto aqui. Mas uma tentativa se faz necessária, não é mesmo?

Bom, chega de enrolação! Vamos ao que interessa!

Primeiramente, vi que muita criticou as pessoas que gostam de funk carioca, sertanejo universitário, Restart e etc. O que elas, talvez, não levem em consideração é que o blues, o jazz e o próprio rock, no momento de seus “adventos” não foram aceitos como unanimidade, e antes de eles se estabelecerem como “clássicos”, muita coisa comercial (boa e ruim) foi feita, discriminada, comprada e vendida. O único jeito de saber mesmo se “a moda vai pegar”, é esperar: neste sentido, o tempo acaba virando o senhor da razão. A maioria das bandas de rock das quais lembramos são as que foram mais famosas na época (e não necessariamente as melhores): quantos grupos morreram antes de chegar ao reconhecimento?

Acho que ta na hora de a gente pegar mais leve com quem faz música e começar a criticar quem a reproduz. Piadas à parte, não há problema em existir Restart, Furacão 2000, Michel Teló e afins. O problema é quando apenas este tipo de produção tem espaço na mídia. Se há uma grande “culpada” nisso tudo, esta é a grande mídia, que decide quem ou o quê vai ganhar mais tempo no ar.

Se, por exemplo, todas as rádios tivessem uma grade de programação que dividisse igualmente o tempo para todos os estilos musicais, ao invés de passar 95% do dia reproduzindo o “lixo comercial”, aposto que mais gente gostaria de mais coisas. Mas essa reprodução exaustiva dos mesmos materiais acaba “viciando” o ouvido das pessoas que dependem destes veículos de comunicação para terem acesso à informação, à música ou ao que seja.

Em segundo lugar, o autor, Marcelo Moreira, e também muitas das pessoas que comentaram no texto parecem querer classificar as pessoas que ouvem rock (e, ainda de acordo com eles, jazz, blues, música erudita, etc) como mais cultas do que as outras. Acho que isso é uma armadilha perigosa. Este tipo de definição sobre o que é e o que não é cultura, é justamente o que, décadas atrás, relegou o blues, o jazz e o rock a um papel marginal na sociedade. Se eles conseguiram quebrar essas barreiras, não foi sem mérito ou luta.

Acho que não podemos julgar a competência (nem a inteligência) de uma pessoa apenas pelo seu gosto musical. Se, coincidentemente, as pessoas citadas no exemplo apresentado no texto eram mais “antenadas”, isto não é porque elas ouviam determinado tipo de som. Penso que estas pessoas pesquisaram diferentes tipos de música justamente por serem mais “ligadas”, e não o contrário. Voltando à questão da mídia, é preciso, realmente, ter algum diferencial para poder ter a independência de se buscar o que quer, e não o que nos é ditado pelas regras do jogo social.

(Se acalmem, estamos chegando aos finalmente) O que quero dizer é: temos que parar com essa besteira de acharmos que somos melhores do que fulano, ciclano e beltrano por causa do que ouvimos ou lemos (eu, em especial, preciso aprender urgentemente essa lição). A cultura é diferente, dinâmica, mas nunca melhor ou pior. Uma sociedade ideal seria aquela onde não precisaríamos discutir estas coisas, brigar tanto por um centímetro de repercussão, pois cada tipo de pessoa teria seu devido espaço. 

No mais, eras wilson, gurizada! Aquele abraço e até a próxima!

Blogger Templates by Blog Forum